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“Viajar na poesia é viajar em outro tempo”, diz Guga Cidral

guga cidral

Em uma conversa repleta de afeto, poesia e nordestinidade sobre seu livro O Bê-á-bá do Ceará, lançado recentemente pelas Edições IPDH, Guga Cidral nos convida a mergulhar no universo lúdico e colorido da sua obra. 

O livro, que mistura rima, afeto e tradição, nasceu de um encontro profundo com o povo cearense e se tornou um verdadeiro abraço em forma de literatura. Conversamos com o autor sobre sua imersão cultural de afetos e memórias, suas inspirações e suas vivências marcantes durante todo o processo.

Segundo o autor, a inspiração para transformar suas experiências no Ceará em poesia veio da alegria contagiante do povo local e da generosidade com que foi recebido em suas andanças por diversas cidades cearenses. Dessa forma, professores, educadores e moradores contribuíram para essa visão afetiva e cultural que pulsa em cada página.

“O Ceará me ensinou uma lição de carinho, sotaques e cheiros diferentes. Quis transformar tudo isso em palavras, em brincadeiras rimadas, e assim nasceu o Bê-á-bá”, explica.

O processo criativo teve início a partir da lista de cidades visitadas pelo autor durante ações das Edições IPDH. Desse modo, como ele conta, a sonoridade dos nomes dos municípios — como Itapipoca e Morada Nova — foi essencial para compor os versos.

“Cada cidade tinha uma musicalidade própria que me convidava a brincar com as palavras. Foi uma escrita que despertava poesia pela simples beleza dos nomes”, relata Guga Cidral.

Celebrando o Nordeste: uma festa em forma de livro

Bê-a-bá do Ceará

Assim, entre romarias, caranguejadas e paisagens do sertão, o livro homenageia a rica cultura nordestina, especialmente a cearense. Para o autor, esse é um Brasil que precisa ser valorizado.

“O Nordeste tem uma força artística gigantesca, com seus cordéis, festas, músicas e tradições. Com o Bê-á-bá, quis celebrar essa diversidade e mostrar que a cultura popular é um espaço de alegria, inclusão e poesia sensível”, afirma.

O autor destaca, ainda, que a mensagem principal da obra é a alegria — uma alegria que toca todos os sentidos e transforma a leitura em uma experiência sensorial.

Identidade regional e infância: uma conexão natural

Para Guga Cidral, o Bê-á-bá do Ceará é também uma ferramenta de valorização da identidade regional e uma ponte com os leitores mais jovens. “As crianças se conectam com a brincadeira das palavras, com as rimas. Elas acessam esse universo de forma natural. Meu desejo é escrever outros Bê-á-bás do Nordeste: do Maranhão, de Pernambuco, da Bahia… Mostrar essa potência cultural desde cedo é essencial”, diz. A ideia é que os pequenos leitores reconheçam sua história e território nas páginas dos livros, fortalecendo laços com a própria origem.

A voz que conduz Guga Cidral: afeto, riso e imaginação

Guga Cidral e Guabiras em lançamento do Bê-á-bá do Ceará na Bienal Internacional do Livro do Ceará

Embora ele mesmo não se considere poeta, há uma voz poética e cheia de carinho que guia o leitor pelo livro. É uma narrativa que brinca, convida, acolhe.

“Gosto de imaginar que estou chamando as crianças para uma nova brincadeira: brincar com as palavras e viajar com elas. O Ceará virou esse lugar de cor, de gibi, de chão de brincar”, compartilha o autor.

Ilustrado por um artista cearense, Guabiras, o livro ganha ainda mais vida. As ilustrações são um traço à parte, pois apresentam traços que remetem às chitas, fitas e cores do cotidiano nordestino. O personagem principal do livro, uma espécie de mascote em forma de mapa do Ceará, percorre lugares, festejos e momentos icônicos da cultura cearense, apresentando tais elementos aos pequenos leitores.

Letramento como encantamento: o papel da literatura nas escolas

O autor acredita que livros como O Bê-á-bá do Ceará têm um papel fundamental no processo de letramento por meio da emoção, da identificação e do prazer de ler. “A literatura humaniza. Ela não precisa ser pedagógica para ensinar. Ela ensina por encantamento. O Bê-á-bá não quer dar lição, quer propor uma brincadeira poética com as cidades, os nomes, as histórias. É uma poesia quase geográfica”, explica.

Para ele, a obra ajuda a criança a fazer uma leitura do seu mundo antes mesmo de ler as palavras escritas, despertando o desejo pela linguagem e pela descoberta.

Mais do que um livro: uma celebração da infância e da cultura

Para Guga, fica claro que O Bê-á-bá do Ceará é mais do que um livro infantil, é uma celebração da cultura popular, uma homenagem às infâncias nordestinas, e uma tentativa sensível de manter viva a poesia das pequenas coisas. Em tempos de telas e distrações digitais, o autor aposta na palavra falada, na sonoridade e na proximidade como formas de tocar o leitor: “A palavra ao pé do ouvido é que vai ser surpresa, que vai ser brincadeira, que vai ser, sobretudo, alegria”.

O Bê-á-bá do Ceará  se mostra, portanto, como um livro para rir, rimar, recordar e se orgulhar das raízes; um verdadeiro be-a-bá de pertencimento e poesia.

Quer saber mais sobre o assunto? Assista ao episódio do IPDH Podcast sobre o livro e entenda a visão de Guga Cidral sobre o uso da “Arte na Educação Infantil”, explorando sobre as potências que existem nessa etapa do ensino e como os professores podem se apropriar delas.