(85) 3262.2038
Home  »  “A literatura infantil tem um poder transformador”, diz Cristianny Portela 

Blog

“A literatura infantil tem um poder transformador”, diz Cristianny Portela 

As Cores da Vida: Com Cristianny Portela

A literatura infantil vai além do entretenimento. De fato, ela tem o poder de abrir horizontes, despertar a empatia e transformar a forma como as crianças enxergam o mundo. Esse é o espírito que guia a coleção “As Cores da Vida”, escrita por Cristianny Portela em coautoria com Ana Cláudia da Silva e Patrícia Cordeiro.

“A literatura infantil tem um poder transformador. Por meio dela, podemos abrir caminhos para o respeito, a empatia e a valorização das diferenças”, afirma a autora.

As obras da coleção apresentam personagens diversos e narrativas que abordam temas como diversidade cultural, deficiência, preservação ambiental e convivência respeitosa. Em entrevista, Cristianny Portela revelou os bastidores da criação da coleção e refletiu sobre o papel da literatura na formação de valores fundamentais.

A inspiração nasce da escuta

A ideia da coleção surgiu de um movimento de observação e acolhimento das realidades escolares. Cristianny conta que o ponto de partida foram os processos formativos vividos junto a professores e crianças.

“A inspiração surgiu das vivências nos processos formativos, da escuta atenta às necessidades dos professores e, principalmente, das crianças sedentas por conviver e compreender o mundo nas suas diferenças”, explica.

Essa atenção se converteu em histórias que, ao mesmo tempo em que divertem, instigam reflexões profundas. Para a autora, proporcionar experiências lúdicas que valorizem diferentes culturas é fundamental para a formação cidadã:

“Quando proporcionamos, através da ludicidade, a valorização das diversas etnias, estamos possibilitando a formação de seres humanos éticos, justos e inclusivos”, destaca a autora. Ou seja, a coleção nasce de uma necessidade real: a de ajudar crianças a compreenderem o mundo plural em que vivem.

Um processo de criação colaborativo

Outro aspecto essencial destacado por Cristianny é o caráter coletivo da coleção. Ela ressalta que cada autora trouxe consigo memórias, vivências e repertórios que enriqueceram o resultado final.

“A coleção As Cores da Vida foi um processo colaborativo. Cada autora, com suas memórias ancestrais e experiências profissionais e emocionais, possibilitou o nascimento dos personagens e suas narrativas, enfatizando que vivemos num enriquecedor mundo plural com identidades únicas”, relata.

Além disso, essa multiplicidade de olhares fez com que os personagens transmitissem autenticidade, representando de forma sensível a diversidade que compõe a sociedade.

“A coleção foi elaborada tendo como objetivo primordial fortalecer o diálogo sobre inclusão e a educação na diversidade, promovendo a construção de ambientes escolares respeitosos, solidários e colaborativos”, afirma Cristianny. Assim, mais do que contar histórias, o projeto busca provocar mudanças concretas no ambiente escolar.

Literatura como caminho para a empatia

A literatura infantil sempre esteve associada à fantasia, às emoções e aos heróis que encantam gerações. Mas, para Cristianny, ela é também um recurso poderoso para ensinar valores e desenvolver a empatia desde cedo.

“A arte da palavra sempre esteve presente na humanidade, promovendo encontros e encantos nas rodas de histórias com suas narrativas, seus heróis, suas emoções e aventuras. Foi a partir das contadoras de histórias que compreendemos o papel mobilizador das narrativas literárias para a formação humana”, destaca a autora.

Ela reforça que as histórias permitem às crianças compreender tanto a si mesmas quanto aos outros:

“A literatura infantil pode potencializar, desde muito cedo, a compreensão de si e do outro, oportunizando o desenvolvimento do potencial criativo, ampliando o universo cultural, bem como o respeito a si e ao outro. As crianças se deparam com personagens que enfrentam diferentes emoções e desafios, permitindo que se identifiquem e compreendam experiências alheias, tornando a literatura uma ferramenta poderosa para cultivar a empatia desde cedo”, explica.

Para a autora, as narrativas funcionam, portanto, como pontes para o diálogo e a compreensão das diferenças.

Representação e cuidado: deficiência visual em pauta

Entre os títulos, está O espelho é meu amigo, que traz a deficiência visual como tema central. A autora ressalta a importância de tratar o assunto com respeito e responsabilidade.

“Primeiramente a necessidade da realização de pesquisa, escutar as experiências de pessoas com deficiência visual, seus desafios e, com isso, respeitar as histórias dessas pessoas, representadas pelo personagem Carlos”, afirma.

Segundo ela, o processo foi também de aprendizado para as próprias autoras:

“Todo o processo de escuta e criação proporcionou muitas reflexões e a necessidade de promovermos diálogos inclusivos”, relata a autora.

Esse cuidado garante que a representação não seja estereotipada, mas sim uma forma de legitimar as vivências e abrir espaço para discussões sobre acessibilidade e inclusão.

Literatura e meio ambiente: consciência desde cedo

Além da diversidade cultural e da inclusão, a coleção também abraça a temática ambiental. Nos livros A Aldeia de Sami e O Guardião da Vida, as crianças são incentivadas a perceber que fazem parte da natureza e, portanto, têm responsabilidade em preservá-la.

“Nas histórias a Aldeia de Sami e o Guardião da vida, desejamos mobilizar o reconhecimento de que fazemos parte da natureza e como parte temos a responsabilidade na preservação, estimulando com a literatura infantil o reconhecimento dos saberes dos povos indígenas, a consciência ambiental e que ações poderemos desenvolver no cotidiano dos espaços escolares”, diz Cristianny.

Assim, esse olhar amplia o alcance da coleção, mostrando que a educação ambiental também deve estar presente nas histórias que formam as novas gerações.

Outro título da coleção é o Meu cabelo de molinha. Nessa história, a personagem Alice apresenta, com leveza e alegria, a beleza de seus cachos e também dos cabelos de seus amigos.

A narrativa valoriza a diversidade estética e convida as crianças a reconhecerem que a beleza se expressa em diferentes formas, texturas e cores. Dessa maneira, o livro incentiva o orgulho da identidade e fortalece a autoestima, especialmente em relação às características que representam a pluralidade cultural e étnica presente em nossa sociedade.

Uma mensagem para todas as idades

Ao final da entrevista, Cristianny deixou uma mensagem de esperança e compromisso coletivo, reforçando o papel central da educação e, em especial, dos professores.

“Que possamos reconhecer nosso papel individual e cooperativo na construção de um mundo inclusivo, diverso e humano. A educação é um dos pilares para fomentarmos em todos essa consciência humana, mas sabemos que o professor com seu olhar sensível, sua capacidade de transformar tem a essência de potencializarmos nas crianças novos olhares”, afirma.

Segundo a autora, são os educadores que transformam as histórias em vivências significativas, ajudando os alunos a enxergarem novas perspectivas sobre si mesmos e sobre o mundo.

Para além das páginas

A coleção vai além dos livros infantis: é um convite ao diálogo, à reflexão e à ação em favor de uma sociedade melhor. Suas histórias reafirmam o poder transformador da literatura infantil ao cultivar empatia, diversidade e consciência social desde a infância.

Quer se aprofundar nesse tema? Então, assista ao episódio do IPDH Podcast! Cristianny Portela compartilha curiosidades sobre a coleção e reflete sobre “Como promover a literatura étnico-racial na sala de aula”. Uma discussão fundamental sobre a importância de todos estudarem a diversidade e se apropriarem dela para, à sua forma, contribuindo com um mundo mais justo e respeitoso.